O poderio econômico do gigante global das buscas passa a incomodar empresas digitais no Brasil e no Exterior, que o acusam de concorrência desleal.
Fundado em 1998, o Google se tornou em menos de 15 anos um império que tem valor de mercado superior a US$ 210 bilhões. No cerne do sucesso está seu revolucionário mecanismo de buscas. Foi a capacidade de oferecer um ranking isento e com os links mais relevantes para qualquer assunto buscado, bem como a de casar anúncios patrocinados a esses resultados, que trouxe glória e fortuna à empresa. Nos últimos meses, no entanto, seu horizonte, até aqui risonho e ensolarado, ficou carregado. Ao ingressar em novas frentes de negócios, o Google passou a ser concorrente dos mesmos sites que apresentava em seu mecanismo de busca, como canais ligados ao comércio eletrônico, turismo e localização de estabelecimentos comerciais.
A competição com os próprios clientes, algo incômodo e geralmente difícil de ser compatibilizado com as boas práticas de negócios, transformou a companhia em alvo de um número cada vez maior de acusações de concorrência desleal, seja nos Estados Unidos, seja na Europa, Ásia, África e, mais recentemente, no Brasil. Os processos geralmente se referem ao suposto favorecimento do Google aos seus próprios serviços. No Brasil, a polêmica surgiu por meio de uma representação encaminhada pelo Buscapé, o maior site de comparação de preços do País, à Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça. A empresa brasileira afirma que a companhia de Mountain View privilegia seu recém-lançado serviço de comparação de preços, o Google Shopping, em detrimento dos concorrentes.
No centro das atenções: acusações de suposto favorecimento aos próprios serviços já fez o Senado
dos EUA convocar o presidente do conselho do Google, Eric Schmidt.
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“Nosso pleito pede apenas que o Google trate o Google Shopping com
isonomia, como qualquer outro comparador de preços”, diz Rodrigo Borer,
vice-presidente do Buscapé. “Se a ferramenta deles for a mais relevante,
que esteja no topo. Não podemos concordar, no entanto, com um
posicionamento artificial”. Em réplica enviada à SDE, o Google, além de
refutar a suposta manipulação nos resultados, argumenta que não está
alavancando um produto para obter vantagem em outro. “O Shopping não é
um produto independente”, diz Carlos Félix Ximenes, diretor de
comunicações e assuntos públicos do Google Brasil (leia entrevista ao
final da reportagem). “É apenas um complemento do buscador.” A SDE ainda
não se posicionou a respeito.
“O argumento do Google lembra o da Microsoft, que nos anos 1990
dizia que o Internet Explorer integrava o Windows, mas acabou derrotada
na questão”, diz o advogado Cláudio Araújo Pinho, especialista em
direito concorrencial. A batalha com o Buscapé é a parte mais visível
do imbróglio concorrencial, mas o assunto não para por aí. Nos
bastidores, outras empresas nacionais de internet dizem temer problemas
do mesmo tipo. “Todo mundo morre de medo de brigar com o Google”, diz um
conhecido empreendedor da internet brasileira que pediu para não ser
identificado. Antônio Coelho, fundador do Já Cotei, site de comparação
de preços que alega ter perdido mais de 25% do seu tráfego desde que o
Google Shopping foi lançado, vai na mesma direção.
Jeremy Stoppelman CEO do Yelp. |